Nos idos de 91, logo após o final da década não dourada, mas computadorizada, o jornal inglês Melody Maker trouxe em sua capa "chega ao fim a Década do Technopop" em contrapartida o outro semanário inglês New Music Express, trouxe uma matéria com o mesmo tema, uma manchete "A década do Technopop" trazendo em suas páginas, uma retrospectiva da década, desde os New Romantics eletrônicos futuristas do começo da década, até as vertentes do house, como o Acid de Bomb the Bass e M/A/R/R/S da 4AD do final da mesma, concluindo que a década dos computadores ia deixar saudades e que a partir de então iria se iniciar a volta das guitarras, em parte estavam certos, a década de 90, nada nos trouxe de bom, excetuando-se as bandas que se mantiveram a linha 80s, como o Wolfsheim, De/Vision, Elegant Machinery, etc.

Mais que uma previsão, que os 90 seriam dos acústicos como o grunge (bleargh...), mas também para dizer que o revival estava na ordem do dia. E realmente, quatro edições depois a Melody Maker, traz uma matéria maravilhosa, que agitou os fãs de boa música, fiquei louco pelo cd. Estava sendo lançado apenas na Inglaterra, o primeiro cd de revival dos anos 80. O Club for Heroes.

Se tratava de uma coletânea com 19 bandas que arrasaram os 80, centrada no começo da década, a era dos New Romantics. O nome da coletânea era uma homenagem ao tal Club for Heroes, que eram as primeiras noites futuristas do movimento que nascia ali, o New Romantic.

Foi dessas noites, apelidadas de Bowie Nights após um especial chamado de Bowie Night, que nasceu o famoso movimento que deu o ponta-pé inicial na década do technopop.

Procurei como um louco pelo cd logo após ler a matéria, pela descrição que apresentaram, pelo início do revival 80s, e pelas bandas contidas na coletânea.

Assim nasceu o revival dos 80. Escolhi esse cd para a estrear a seção coletâneas dos 80, pela importância que teve nesse revival e a própria vontade que causou a partir dali, de fazer uma noite anos 80 no Brasil, dois anos depois nascia o Autobahn e você já conhecem o resto da história.

Esse maravilhoso tributo à década que acabava de findar, encontramos um dos maiores do New Romantic, o Duran Duran e sua Girls on Film, o começo da era do video clip também paternizado pelos New Romantics e principalmente pelo Duran Duran, os maravilhosos Spandau Ballet e sua song mais New Romantic, os gênios computadorizados do Visage, banda fusão de duas outras geniais bandas, o Magazine e o Ultravox, esse continuando na ativa, e o Visage como um projeto paralelo para experimentar o ultra-romantismo casado com a eletrônica. O ABC, que foi um dos grandes marcos da década, e sua seta envenenada.

O Top dos tops Tainted Love do Soft Cell, um dos singles mais vendidos da história da música e que agitou os New Romantics durante toda a década e ainda hoje atrai milhares de jovens a conhecer mais dos 80, o Soft Cell tem essa capacidade, de trazer quem ouve uma música deles, querer conhecer o restante de suas songs e bandas parecidas.

Ainda contém os gênios Vince Clarke e Alison Moyet, que conseguiram a façanha de quebrar a hegemonia da grandes gravadoras, alcançando o top com o primeiro single, Only You.

O Tubeway Army de Gary Numan. O Teardrop Explodes de Julian Cope, a clássica banda neo-romântica, Classix Nouveaux. Os geniais teclados do Blancmange e sua mistura musical de synthies e rítmos árabes entre outros (isso já é lá dos 80, nada de novo em usar rítmos árabes e eletrônicos, o Blancmange fazia isso em 81). A banda das mais conceituadas da era eletrônica, um dos pioneiros, ao lado do Human League do pop eletrônico na Inglatera, o Ultravox e sua inesquecível Vienna.

Talk Talk, discretos e geniais dominadores dos synthies. O Japan, que entrava numa segunda fase, mais eletrônica, o Thompson Twins, que teve até participação especial do Thomas Dolby nos synthies. E completando o Icehouse, na fase inicial totalmente New Romantic, o The Passions, com uma linha musical doce nos moldes do OMD com vocal feminino, resumindo maravilhosa, e uma raridade encontrar singles e informações da banda, Landscape, outra banda excursionou pelas boas ondas do new romantic da época, e claro o Gary Numan com seus inestimáveis carros de estimação.

Resumindo, uma coletânea básica para os fãs de anos 80, pode ser uma raridade encontrá-la por aí, mas vale a pena o esforço, pelos marcos que essa coletânea representa e pela qualidade das músicas e bandas que aqui aparecem. No Brasil saiu uma quase equivalente, que comentarei depois nessa seção, mas bandas como The Passions e Landscape são inéditos por aqui. A Coletânea número 1 a ser procurada pelos fãs dos anos 80!

Assim, com uma das melhores coletâneas de anos 80 que já saiu, abro essa seção, que trará periódicamente coletâneas indispensáveis da década de 80.

Marcos Vicente