Danielle Dax - História

Mais uma vez a Inglaterra nos presenteando com maravilhas do mundo alternativo. Danielle Dax nasce em Southend England, e assim, o mundo estaria destinado a conhecer uma das melhores artistas world-etheral que já passou pela história da música. Bem jovem Danielle já começou a pintar e atuar como atriz, prevendo já o que seriam os anos seguintes, de muito perfeição sonora. Mostrando-se conhecedora da arte visual e teatral, não demorou muito para entrar no mundo musical, e então ainda teen entrou para uma banda chamada Lemon Kittens, liderada por Karl Blake. Em 1980, a banda lança seu primeiro álbum, We Buy a Hammer for Daddy. Mas a carreira na banda iria ser efêmera, e quando conseguem lançar o 2º álbum, já em 1982, The Big Dentist (um nome no mínimo estranho), Danielle descobre que tem muito mais talento, e resolve sair em carreira solo. Nesse momento começa a definir melhor sua sonoridade, meio Dead Can Dance, mas bem diferente, inclusive pelo visual dela percebe-se que ela está bem mais pra Sioux Siouxsie e toda a New Wave inglesa do que para um ethereal introspectivo. Algumas songs são bastante ethereal, mas tem um estilo próprio, pois sua world music, também tem muitas características meio "caipiras", e oresto é bem New Wave, a la Les Rita Mitsouko, Animotion, mas como sempre muito bom, a musa Ethereal - World Danielle Dax.

Em 1983, um ano após deixar a Lemon Kittens, já estréia no mercado fonográfico em carreira solo. Lança Pop Eyes, o álbum já mostra sua cara bem alternativa, que inclusive influenciaria o Dead Can Dance anos mais tarde, alguns sons desse álbum, chegam a parecer música oriental, outras são bem New Wave, e dessa vez ela mostrou todo seu talento, com muita qualidade, e mais, ela faz tudo sozinha. Completamente sozinha, mais uma prova da sua imensa capacidade musical, e que tem vasto conhecimento, com extrema dedicação. Sons que nos levam a outras épocas de nossa história uns sons meio celtas, com bastante mitologia incorporada, sons tribais até nas guitarras. Este álbum de estréia já sai pela Awesome Records. Fazendo, tudo, mas tudo mesmo, não deixou nada pra gravadora, extremamente criativa, maravilhosa com os instrumentos e conhecedora de todas as artes, resolve deixar para a gravadora apenas a divulgação do álbum (mesmo assim ainda opinava bastante, o que influenciou muito uma banda belga anos mais tarde que assimilou a idéia de músicos auto-suficientes, o Front 242). Uma concepção que começa no fim dos 70 - o faça você mesmo, mas se afirma melhor nos 80 com os teclados, samplers e sintetizadores. Simplesmente todo aquele povo inútil, que só serve pra tirar grana da banda e ficar tudo com a gravadora, engenheiros de som, arranjadores, instrumentos em tais músicas, iluminação de estúdio, abanador particular, etc... Ela dispensa todos eles. E mais dispensa até os músicos. Danielle toca os instrumentos sozinha, gravando um por um nos canais e sintetizadores, compõe as músicas, é a engenheira de som, produtora, faz as mixagens dos canais, produz toda a arte do álbum, capa, fotos, material para divulgação, e tudo o resto que precisa para ser lançado um álbum, se mostra assim a expert completa, como sempre maravilhosa, e talvez a mais genial do new wave/ethereal inglês. A sonoridade do álbum melhora extremamente em relação aos lançados com banda. Dessa vez é uma produção dela mesmo, e sai com sua cara, extremamente mais avançada (futurista em certos momentos), as vezes demonstratativos de uma nova era, tecnicamente também é extremamente superior. E artísticamente nem se fala. E que feeling para escolher as capas! Pronto Danielle se afirma no mercado alternativo, assim como fazia Fad Gadget na outra mão. Simplesmente inovadora, ousada, criativa e uma grande artista em todos o sentidos da palavra. A capa original desse álbum inclusive chocou tanto, que teve que mudar, desenvolvendo ao lado de Holly Warburton uma nova arte. Esta nova inspirada na série Meat Harvest. Nesse álbum, além de tocar sozinha, guitarra, baixo, teclados, banjo, saxofone, percursão, trompete, vozes eletrônicas, etc, ainda introuduz, sendo uma das primeiras a usar a TR808, aliás como sempre ela toca e programa sozinha, mostrando o quanto conhece também da arte de programar e samplear. Afinal, "sampling is an art", como diria o Robotiko Rejekto. Inaugura assim o 808 nas gravações mais góticas, ethereal, etc. O destaque do álbum é Bed Caves, ótima música na linha bem regional ethereal, aliás o nome já é bem sugestivo... ótima song, grande destaque desse álbum. Esse álbum virou base de influência anos mais tarde para 2 importantes bandas na história dos anos 80 - O Dead Can Dance e o Poesie Noire.

Mas é do segundo álbum Jesus Egg That Wept a melhor composição de Danielle, onde aproxima-se já de seu ápice musical, a grande maravilha ethereal que tanto nos apaixonou - Pariah. Uma surpresa pro mundo, principalmente para os góticos, technopopers e alternativos, que ainda não tinham visto nada do gênero, simplesmente o ponta-pé incial na união da world music com a melancolia, a morbidez, a depressão. Ela que é esquecido por muitos no Brasil, nas pistas alternativas nunca ouvi (excetuando-se as noites do Autobahn, of corse). E é exatamente essa a música uma das mais importantes da história do gothic e ethereal do final dos 80. Embora seja de 84 influenciou todas as bandas gothics do final dos 80. Essa música é simplesmente um marco na história do alternativo. Com influências kraftwerkianas, teclados a lá Gary Numan (usando as notas mais graves possíveis e ainda descendo uma oitava, só ele, ela e depois o Neon Judgement, sabiam fazer isso), e vocais depressivos, emotivos, num ritual semi-apocalíptico, mortal, e com o refrão bem feiticeiro "I've been on the other side", aliás frase que já na nossa década de 90 influenciou algumas bandas de technopop (leia-se Silk Bischoff), aliás até o tom do refrão é bem bruxínico. E assim Danielle demonstrou estar em plena evolução musical. Ainda destaca-se desse álbum a song Evil Honky Stomp, uma demonstração de que Danielle consegue pegar uma música meio world, estilos familiares de músicas aos nossos ouvidos, em algo totalmente diferente, totalmente alternativo, mas ainda reconhecível. Sua criatividade e capacidade de composição ainda são suas principais características, e numa escala evolutiva.

Em 1987 mais algumas demonstrações artísticas da genialidade de Danielle, mais uma vez sabendo muito bem como trabalhar as imagens, a capa transmite o conteúdo do álbum. Inky Bloaters, apresenta mais um sem número de ótimas composições, claro não consegue repetir Pariah, mas com Sleep Has no Property, Bad Miss "M" e Big Hollow Man, consegue concatenar sua sonoridade completa. Ótimo álbum, uma viagem ao além musical. Nessa época seu estilo pode-se dizer, que é o que anos mais tarde com a saída da Enya do Clannad, tanto a influenciaria em suas composições. Pronto a sonoridade definitiva. Algo entre Enya, Dead Can Dance, Poesie Noire e Ofra Haza (para quem lembra, aquela de I'm Nin Alu).

Seu principal álbum, seu auge compondo, seu melhor, é um misto de coletânea dos 3 primeiros álbuns, alguns singles e uma dezena de músicas inéditas. Sem dúvida o que eu recomendaria a qualquer fã de Danielle Dax, ou de qualquer estilo que se aproxime da valorização da depressão, ou mesmo da world music. É completo, variado e muito, mas muito bem elaborado. Na verdade, falar coletânea é ser ludibriador, o álbum tem todas as músicas de Inky Bloaters (exceto Born to be Bad), mais 2 músicas dos primeiros e 9 inéditas. Como sempre ela continua a artista impecável, e suas capas continuam maravilhosas.Músicas como Cat-House, Big Hollow Man e Sleep Has No Property são os destaques do álbum. Essa última é uma mistura de clima ritualístico no melhor estilo tribal, uns sons distorcidos a lá efeitos sonoros do filme "Fome de Viver" e uns rítimos meio indianos, médio-orientais. Além das consagradas Bed Caves do primeiro álbum e de novo a maravilha Pariah do segundo, melhor de toda sua carreira. Esse álbum é fruto da assinatura de Danielle com a Sire Records nos EUA, e precisou lançar uma coletânea dos primeiros trabalhos, e para vender bem na Europa também, colocou 9 músicas novas, mas como o sucesso do lado de cá do Atlântico se devia à Pariah e em especial a seu trabalho anterior à assinatura com a Sire, ela colocou quase todas as songs nessa coletânea. Mais uma vez se vc realmente gosta de Danielle, esse é um álbum essencial, indispensável, completo, imprescindível.

Em 1990, o primeiro álbum de músicas inéditas sob a Sire. Infelizmente forçada pelo contrato com a grande gravadora, Danielle muda muito seu estilo (a exemplo do que fez o Front quando assinou com a Sony, com o Poesie em 92, com o Cure em 93, com o Depeche em 93, etc...) tornou-se bem pop, e como todas essas bandas anteriores, fazia música, não mais para tocar o que gosta, mas sim para fazer sucesso (o mesmo que aconteceu com as anteriores), e pior perdeu seus fãs anteriores, assim como todas, que embora ainda mantivessem parte de seus fãs, e novos danceteiros de suas músicas, perderam os mais fanáticos e cultuadores. Assim como quase dos 80, Danielle também segue a risca o que aconteceu com China Crisis, Art of Noise, e outras dezenas, e ao entrar nos 90 (adaptar-se ou resistir), ela resolveu nem adaptar-se mais ainda como fizeram Front, Depeche, nem resistir como fez o Trisomie, e simplesmente parou. É, sem dúvida os anos 90 decretaram a morte de uma geração, a geração melhor de todos os tempos, onde todos os hits, vinham das gravadoras independentes - fato inédito na história da música, onde as grandes gravadoras foram passadas para trás, e não tiveram o mesmo poder que tinham nos 60 e 70, e muito menos o domínio dos 90 (Oasis, Prodigy comandados de suas gravadoras, "tudo por hit" entenda-se dinheiro). Danielle só lança um álbum assim, e inteligente, criativa que sempre foi não conseguiu compor acorrentada pela pressão da gravadora, e encaminha-se pela melhor opção, prefere parar de tocar a fazer a decadência que o Front e o Depeche destruindo seus nomes, uma carreira inteira séria, para se adaptar ao fim da década do technopop, e entram na década do Tehcno e Grunge, cada um a seu estilo, respectivamente, negando tudo que fizeram durante os 80. Danielle logo percebe que não é isso que quer para si, e resolve deixar apenas um álbum na história como ruim, mal feito. Diferentemente do Front que já fez uns 3, e o Depeche que literalmente defecou os 2 últimos álbuns. Bom com esse álbum Danielle atinge as paradas na América e mesmo na Europa, e obtém seu primeiro sucesso em todos os tempos, Tomorrow Never Knows, uma cover dos Beatles. Aliás única música de sua carreira que não é dela, pois todos álbuns anteriores ela compunha o álbum inteiro, sem ajuda da ajuda gravadora nem de ninguém, super gênio Danielle Dax. Ela deixa saudades, uma legião de fãs, de gothic, technopop, ethereal, world se entristecem em todo o mundo, mas sem dúvida infelizmente foi melhor assim. Melhor ele ter parado nesse momento, com apenas um álbum pop, o dos anos 90, do que continuar, e hoje teríamos que ver a mesma compositora de Pariah fazendo Techno, Dance, iria ser sacrilégio, a santa Dax. E no seu auge de sucesso, pop, que não gostava de fazer ela joga tudo para cima e rompe com a gravadora que tentava cada vez mais interferir em sua independência, e para de tocar, deixa como legado suas maravilhas para a humanidade, sem sujar sua história com as frivolidades pop, techno, trance, grunge dos 90. Viva Danielle. Maravilhosa, recusa o sucesso nas paradas em nome da qualidade de sua música. Foram poucas que como ela tiveram essa coragem, Destaco o Trisomie 21, única dos 80 que não se vendeu aos 90, infelizmente única, até A Split Second se vendeu.

Em 95 um single Timber Tongue, e a coletânea dupla Comatose Non Reaction (nome bem Skinny), com 4 músicas antigas e inéditas, que nunca saíram nos CDs. Uma boa coletânea e vale para os fãs conheceram as músicas que ficaram de fora dos álbuns. Muito boas.

Marcos Vicente

Bandas realcionadas

Dead Can Dance, Gary Numan, Ofra Haza, Poesie Noire, Trisomie 21, Lene Lovich.
Influência: Kraftwerk, Enya.


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