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ENTRE"PISTAS" - AUTOBAHN

Trisomie 21

Phillip Lomprez (Trisomie 21), Marcos Vicente
e Hervé Lomprez (Trisomie 21)

Marcos Vicente: O nome Trisomie 21, a diferença no par de cromossomos, por que vocês escolheram esse nome?

Hervé Lomprez: Quando nós começamos a compor, nossas músicas eram bem estranhas, quando subimos pela primeira vez no palco, as pessoas ficaram muito alegres com o Trisomie, uma empatia, primeiro show, essa alegria.

M.V.: Nenhuma relação também com conhecidos portadores de Trisomia do 21 (Síndrome de Down)? Imaginei que tivesse algo com a ver com a Síndrome, do sentimento mais apurado delas.

Phillip Lomprez – Nossa solidariedade com todas as pessoas que são atingidas pela Síndrome de Down. Essa "doença" amplia a sensibilidade das pessoas, e também uma capacidade de trabalhar com arte, mas ninguém comenta da felicidade deles em viver. Por isso o nome, pela felicidade deles em viver e essa capacidade artística e de desenvolver os sentimentos. Nossa música não é de fácil assimilação, talvez por isso tenhamos escolhido o nome.

Hervé - Não temos conhecidos portadores, não é uma referência isolada. Uma escolha, não muito confortável, a imprensa nos achava agressivos, não entendendo a mensagem, chegamos a ter nossos shows proibidos, eu sei, é um nome politicamente incorreto, mas não foi essa a intenção, e sim pelo lado da felicidade dessas pessoas, assim como no nosso primeiro show, essa felicidade em viver, foi a causa da escolha do nome.

M.V.: Nesses 24 anos de carreira o som da banda mudou um pouco...

H.L. :É um pouco diferente, nós usávamos mais baixo, e com tempo, evoluímos para um som mais eletrônico, e atualmente com a internet, e o novo membro, mais um músico para shows.

M.V.: Basicamente o Trisomie é você e o Phillip, com convidados?

H.L. :Trisomie somos eu e o Phillip, e às vezes trabalhamos com diferentes músicos para os shows, turnês, e alguns álbuns, nos shows temos músicos convidados, como um apoio no palco.

M.V.: Pelos últimos 16, 17 anos tenho tocado Trisomie em algumas das minhas discotecagens, e tem sido muito interessante a receptividade das suas músicas. Uma forte empatia com as suas músicas. Você sentiu isso nos shows, gostou de tocar aqui?

H.L. :Eu gostei de tocar aqui, mas na Europa, estamos acostumados com shows maiores, mas isso não foi um problema para nós, ficamos felizes de tocar para os fãs brasileiros, bemm.... como digo isso em inglês.... hum.... bem, nós sentimos todo mundo gostando muito, o público, na verdade não gosto muito desta distância, o público lá embaixo, e você num lugar no topo. (identificação com o Autobahn, exatamente este sentimento da banda me conquista em especial,porque na festa Autobahn é exatamente como atuamos, não nos colocamos em pontos diferentes, somos todos iguais, ali, para reviver os anos 80, apenas).

M.V.: Você sentiu muita diferença do público no show do Rio e de São Paulo?

H.L. :Eu preferi o de São Paulo. Não gostei do Rio. Havia uma quantidade maior de fãs em SP que conhecem a banda.

M.V.: Eu percebo algumas influências em vocês, de alguns estilos e bandas.

H.L. :Aqui para algumas pessoas o Trisomie parece gótico, mas não fazemos esse tipo de música, não gostamos deste tipo de besteira, temos vários tipos de influências, um pouco de influência de músicas para filmes, technopop, é um tipo de música diferente. Na França o movimento de que participamos e como somos conhecidos é a New Wave, assim como o Depeche Mode, Gary Numan, de nenhuma maneira gótico, é um som realmente novo, diferente.

M.V.: New Order?

H.L. :Sim muito New Order e Depeche Mode.

M.V.: Algo também do Joy Division, no começo?

H.L. :Bem no começo, quando fizemos nosso primeiro show algumas pessoas disseram que tinha um pouco de Joy Division, mas nós nem conhecíamos Joy Division!

M.V.: Mas realmente lembra no primeiro álbum, uma ou duas faixas...

H.L. :Depois que as pessoas falaram, então compramos alguns álbuns, e realmente tem uma ou outra coisa. Mas nenhuma influência. Nosso som evoluiu muito, sintetizadores, como o New Order, que é muito melhor.

M.V.: Eu gosto muito de alguns álbuns, como o Works e o Chapter IV, e você qual o álbum preferido do Trisomie em toda a carreira?

H.L. :Eu gosto do Distant Voices, ele é muito diferente de tudo que fizemos. Minha música preferida é a New Outset, eu amo essa música.

M.V.: Eu gosto do 12” dessa música, existe alguma versão curta dela?

H.L. :Sim e não. Não há uma versão curta. A versão curta é Missing Pieces do álbum Works. É a mesma melodia, a mesma canção, aí resolvemos fazer uma espécie de versão longa.

M.V.: Sim sempre vi muita similaridade nelas, as letras são diferentes mas o instrumental é muito parecido.

H.L. :Gostamos muito da primeira Missing Piece, então procuramos um produtor, para fazer uma espécie de ‘mix`, então gravamos A New Outset primeiro, uma outra música, lançamos o single antes. E depois gravamos o álbum Works, e não completamos com uma versão longa dela, mas ela já estava lá antes, a mesma melodia.

M.V.: Sobre a gravadora, foi a Lês Tempes Modernes, e depois a distribuição com a Play It Again Sam (PIAS), vocês tiveram problemas com a PIAS, é o que parecia aqui, com a distância entre os álbuns?

H.L. :Trabalhar com a Play it Again foi muito ruim. Não gosto de lembrar dessa fase, não foi muito importante. Hoje temos nossa própria gravadora. Temos nosso próprio produtor. Nosso próprio estúdio. Não queremos mais trabalhar daquela forma.

M.V.: Bem, vamos mudar de assunto, vocês não gostaram de trabalhar com a PIAS.
E aquele quase sample de Kraftwerk em Joh Burg, aquela voz sintetizada, feita com vocoder?

H.L. :Não usamos o sampler. Sim tem vocoders, mas em Joh Burg, foi apenas uma mistura, sampleamos e sintetizamos os sons de batidas tribais africanas, do Quênia, misturamos com sons futuristas eletrônicos, uma referência, mas sem sampler.

H.L. :Quando uso o sampler, busco criar novos sons, faço uma seqüência minha em cima deles, e monto a música.

M.V. Atualmente que tipo de música você tem ouvido, novas influências, outras bandas?

H.L. :Estamos meio sem tempo de ouvir outras músicas (rindo...), é difícil, arrumar tempo entre uma composição e outra, e os shows. Quando estou mais descansado ouço Riyuchi Sakamoto, eu gosto muito de Riyuchi Sakamoto.

M.V.: Vocês pararam por alguns anos com a banda, ou foi apenas um maior espaço para se dedicar mais às músicas?

H.L. :Não paramos, tivemos muitos problemas com a PIAS (gravadora do Front, Neon, forte em EBM, o que dava dinheiro naquele momento, mas a banda queria algo mais technopop, pop e até meio World Music), queríamos outro tipo de música, mais leve, mais músicas para filmes, e a gravadora nos pressionava, então resolvemos não gravar. * Tivemos alguns problemas, para sair da PIAS. Mas quando saímos da PIAS, resolvemos o problema. Não trabalhamos em uma música muito profundamente, de dias, o problema era a gravadora apenas. Depois tivemos que comprar todos os nossos direitos dos álbuns para nossa gravadora. E levamos um tempo muito grande para resolver isso. É completamente diferente ter sua própria gravadora, fazemos o que gostamos, compramos mais instrumentos agora, ficou melhor. Nós colocamos nossas músicas até na internet, liberdade.

M.V.: Vocês têm tocado na Europa em festivais e excursionam também com outras bandas?

H.L. :Na Europa, é bem diferente, fizemos vários shows em festivais, fizemos shows com os mais variados artistas como Killng Joke. Participamos de um grande festival eletrônico na Alemanha, foram 30 bandas em apenas dois dias. Agora está melhor, mas no começo depois que deixamos a gravadora deu muito trabalho, os instrumentos evoluíram, e como ficamos 4, 5 anos travados pela PIAS, tivemos que comprar todos novos instrumentos eletrônicos, mais atuais.

M.V.: Sobre o novo álbum o que podemos esperar dessa nova fase?

H.L. :No nosso penúltimo álbum nossas músicas pareciam meio sinfonias, aí pensamos, é quieto, calmo demais.... vamos dormir de novo? (risos....)

M.V.: Realmente senti muita diferença nos dois últimos álbuns, está mais pra Enya do que para New Order, que era a tradição da banda.

H.L. :Eram músicas basicamente instrumentais, muito calmas. Muito boas, mas soavam como músicas para filmes, uma espécie de trilha sonora de fundo dos filmes. Então procuramos outra banda francesa, o Indochine, clássica do technopop e New Wave francês e apresentamos algumas das novas músicas, e eles disseram, ‘isso precisa de um remix, ficar mais encorpada’, então fizemos o remix, uma linha mais up, e ficou muito boa, então resolvemos a mesma linha no novo álbum, bem rápido, sem problemas com dor na mudança, ficou bem melhor.

M.V.: E quando você volta para o Brasil, para novos shows?

H.L. :Quando você quiser, é só falar... rs.

M.V.: Agora rapidinho, de 2 você escolha uma:
M.V.: David Bowie x Kraftwerk

H.V. :Kraftwerk, certamente.

M.V.: E entre duas bandas do New Romantic inglês com nomes em francês. Classix Nouveaux ou Visage.

H.L. :Prefiro o Visage.

M.V.: Devo ou B-52’s

H.L. :Devo, não gosto do B-52’s.

M.V.: Ok, e trabalhos paralelos ao Trisomie?

H.L. :Eu trabalhei pessoalmente com o Peter Hook no Revenge, fiz alguns trabalhos com outras bandas da PIAS.

M.V.: E como foi trabalhar com Peter Hook.

H.L. :Trabalhei um mês com o Peter no Revenge.... trabalhamos juntos, mas não existe muito isso de amizades na Europa, você trabalha junto e quando termina o álbum, termina o trabalho.

P.L.: Tenho que dizer, que estamos muito orgulhosos com os shows no Brasil, sabemos que muitas pessoas gostam da nossa música, é um prazer pra mim e espero que todos tenham gostado do nosso show em São Paulo, e do nosso novo álbum. Estamos muito felizes.

M.V.: Muito obrigado pela entrevista...

P.L.: Foi um prazer pra nós.