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Filhos do Silêncio

 

FICHA

Filhos do Silêncio
Título original:
Children of a Lesser God - 1986, 120 minutos

Elenco:
William Hurt – James Leeds
Marlee Matlin – Sarah Norman
Piper Laurie – Mrs. Norman
Philip Bosco – Dr. Curtis Franklin
E. Katherine Kerr – Mary Lee Ochs

Direção: Randa Haines

Roteiristas:Hesper Anderson e Mark Medoff
Gênero: Drama

“Filhos do Silêncio” (“Children of a Lesser God”), de 1986, dirigido por Randa Haines, é um drama que narra a história de James Leeds (William Hurt), um professor que trabalha com deficientes auditivos, ensinando-os a vocalizar as palavras e assim não dependerem somente da linguagem de libras. A motivação dos métodos pouco ortodoxos e controversos de James nos é apresentada aos poucos pelo filme, muito sutilmente, mas logo fica clara a paixão do professor pelo som, pela música e pela vida, o que justifica de uma maneira muito bela, a sua enorme devoção em levar e compartilhar com aquelas pessoas que não podem ouvir, do jeito que for preciso, esses seus bens tão preciosos... A narrativa começa com a chegada de James no seu novo emprego, repleto de pessoas que embora bem intencionadas, buscam manter o Status Quo, já calejadas pelo conformismo da situação. Entre essas pessoas, James conhece a filha da Sra.Norman (Piper Laurie), Sarah Norman (Marlee Matlin), uma ex-aluna da escola que apesar de sua inteligência e sucesso acadêmico, fechou-se completamente para o mundo devido à sua deficiência e à forma como todos a tratavam como uma incapaz. Romper essas barreiras que impedem o potencial da jovem de aflorar torna-se um desafio pessoal para James, o que ele não esperava é que durante esse processo, um genuíno sentimento brotasse entre os dois, entrelaçando seus caminhos indelevelmente.

O trabalho de Marlee Matlin, deficiente auditiva desde os 18 meses, ao dar vida a Sarah é primoroso, a jovem atriz, mesmo sem vocalizar uma única palavra, contempla seu público com uma atuação intensa, embora muito sensível, evitando quaisquer clichés baratos ou estereótipos rasos na composição de sua personagem. Tal feito não passou despercebido e rendeu a Marlee um feito histórico, tornando-a a artista mais jovem a ser contemplada pela premiação da Academia de melhor atriz, em plenos seus 20 anos de idade, além de também ter sido a vencedora do “Globo de Ouro”. Sarah continuou sua carreira e durante a década de 1990 e teve muito destaque na TV, atuou em séries consagradas, como  “Reasonable Doubts” (1991 – 1993), que lhe rendeu uma indicação ao “Emmy Award” – feito que se repetiria em 2004, pela sua participação em  “Law & Order: Special Victims Unit”. Além de sua carreira nas artes cênicas, Matlin destaca-se pelo seu ativismo, integrando diversas organizações não governamentais (ONGS), como Children Affected by AIDS Foundation, Elizabeth Glaser Pediatric AIDS Foundation, Starlight Children's Foundation, além da Cruz Vermelha.

Randa Haines, a diretora, que iniciara seu trabalho na televisão em 1980 na série “The Jilting of Granny Weatherall” e que, em 1984, foi um dos nomes indicados para um “Prêmio DGA” e um “Emmy Award”, graças ao seu longa-metragem produzido para a televisão “Something About Amelia “, consagrou e firmou definitivamente seu talento em “Filhos do Silêncio”. Este filme foi agraciado com as indicações ao Oscar por  melhor filme, melhor roteiro adaptado, melhor ator (William Hurt), melhor atriz coadjuvante (Piper Laurie) e melhor atriz (Marlee Matlin), além de mais três indicações ao “Globo de Ouro”. No “37º Festival de Berlim” de 1987, Haines que dois anos mais tarde viria a integrar o júri do mesmo, recebeu o “Urso de Prata” pela sua incrível direção. Infelizmente, nas décadas seguintes, os trabalhos para a cineasta tornaram-se cada vez mais raros, sendo o mais recente na direção da minissérie “The Ron Clark Story”, que também recebeu uma indicação ao “Emmy”. Infelizmente o ostracismo de Randa revela-nos a triste realidade da escassa representatividade que as mulheres desfrutam na indústria de Hollywood. Um caso mais recente que ilustra essa situação foi o da cineasta que dirigiu o aclamado “Monster” (2003), Patty Jenkins, que mesmo tendo rendido a Charlize Theron o prêmio da Academia de melhor atriz, ficou 14 anos sem lançar nenhum outro filme.

A Sra. Norman não é a primeira mãe icônica que Piper Laurie vive no cinema, apesar do sucesso de sua personagem em “Filhos do Silêncio”, dez anos antes ela já havia dado vida para a assustadora e perturbada Margaret White, mãe da protagonista do filme “Carrie a Estranha” (Brian de Palma). Piper, hoje em pleno seus 86 anos, já soma mais de cem papéis interpretados no cinema e na televisão, sendo seu trabalho mais recente em “Another Harvest Moon” em 2009.

William Hurt, em “Filhos do Silêncio” dá vida ao carismático professor James Leed, como foi mencionado acima e, curiosamente, na época do filme, ele realmente era casado com Marlee Matlin, que vive seu par romântico na trama. Após essa bem sucedida produção e uma indicação ao Oscar, o ator manteve sua carreira bem ativa, chegando a trabalhar com grandes diretores como Steven Spielberg em “Inteligência Artificial” (2001) e Ridley Scott, em “Robin Hood” (2010), além de ter atuado na aclamada série de TV “Pesadelos e Paisagens Noturnas”, baseada nos contos de Stephen King. Além disso, desde 2008, Hurt tem vivido o papel do general Thadeus "Thunderbolt" Ross, na bem sucedida franquia dos filmes da “Marvel Studios”, sendo seu trabalho mais recente em 2016, em “Capitão América: Guerra Civil”.


Rapha Mussato


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