Sisters of Mercy - História

O início da década de 80 foi marcado pela ressaca musical da década anterior que , em seus últimos anos apresentaria ao mundo toda a excentricidade e a irreverência do movimento punk. Essa ressaca aliada ao faça você mesmo do punk permitiu que uma nova vertente musical aflorasse com força total, aliando o “ faça você mesmo “ e o abandono do preciosismo musical ao sentimento opressivo da falta de perspectiva de vida para a juventude da terra da rainha. Assim nascia o pós-punk, berço de algumas bandas como Bauhaus, Siouxsie and the Banshees, Joy Division e outras, que mais tarde seriam compulsoriamente classificadas como góticas.

Nessa época o jovem Andrew Eldricht se mudava para os fundos de uma farmácia em Leeds com o intuito de continuar seus estudos sobre linguagem e ciências políticas. Em um depósito nos fundos dessa residência improvisada teve seu primeiro contato com um instrumento musical, uma bateria. Esse contato fez o interesse de Eldricht pela música tomar consistência. Alguns meses depois Andrew conheceria em um pub no sul de Leeds o soturno Gary Marx, fã de Leonard Cohen cuja música Sisters of Mercy viria a batizar a banda que deste encontro viria a surgir. A música em questão traçava um dúbio paradoxo entre freiras e prostitutas e o sentimento de Andrew a respeito da prostituição musical de algumas bandas da época do declínio do movimento punk fez com que aos seus ouvidos o nome soasse mais que adequado.

A indústria musical britânica oferecia cada vez menos oportunidades fora do mainstream e a dupla se viu na necessidade de lançar um selo próprio, a indie Merciful Release. Por este selo a banda gravaria e venderia aos trancos e barrancos cerca de 700 cópias de seu primeiro e hoje raríssimo single Damage Done que trazia apenas três faixas, a homônima The Damage Done, Home of the Hitmen e Watch, . Apesar da baixa tiragem este single já mostraria aos poucos felizardos que o compraram o estilo soco no peito que viria a se tornar marca registrada da banda dos jovens Eldricht e Marx.

 

 

Em 81 com o início das apresentações ao vivo, Craig Adams ( baixo ) e Benn Gunn ( guitarra ) se juntaram à banda que já contava com o lendário Doktor Avalanche, uma bateria eletrônica programada para matar. Além dos vocais a liderança de Eldricht começava a se desenhar pois nesta mesma época o mesmo assumiu de vez os vocais soturnos e o visual chapéu preto/óculos escuros que viria a se tornar sua marca registrada. No início de 82 fica pronto o segundo single Body Eletric que trazia entre outros sons AdrenoChrome. A imprensa nessa época já começava a dispensar alguns artigos à banda e com o aumento da popularidade vieram oportunidades como a turnê com o Psychedelic Fürs e uma apresentação na British Broadcasting Company. Essa evolução culminaria no lançamento do single Alice ainda no mesmo ano.

Em 83 a banda lança mais um single, Anaconda e um EP chamado The Reptile House. Com a turnê européia veio a oportunidade de um show nos EUA e a gravação do EP Temple of Love em condições bem mais profissionais na terra do Tio Sam. Exatamente nesta época Benn Gunn, o guitarrista que gravou aquele riff antológico de Temple of Love tomaria uma decisão da qual se arrependeria por anos. Alegando divergências ideológicas deixou a banda abrindo espaço para que o ex-Dead or Alive Wayne Hussey assumisse o trabalho de guitarras da banda.

Com esta nova formação e uma popularidade crescente a banda enfim, se integraria à indústria musical assinando com a Elektra-Warner. Shows, singles, fãs, algumas libras . . . chega então 85, e amadurece a idéia de se lançar o primeiro álbum de carreira, praticamente cinco anos depois da coisa toda surgir na então distante Leeds.

ASendo assim, no ápice da carreira da banda foi lançado com o nome quase profético o álbum considerado por muitos fãs como o melhor álbum, da melhor formação que a banda já teve. Nascia o filho pródigo First and Last and Always. O grande problema de se chegar ao ápice é que inevitavelmente segue-se o declínio, e não poderia ser diferente. A participação cada vez mais presente e influente de Wayne Hussey nas composições do grupo começaram a incomodar o eterno líder da banda, Mr. Eldricht que ao mesmo tempo conseguiu entrar em conflito com o antigo amigo e parceiro Gary Marx, que viria então a abandonar a banda, deixando um buraco naquela lendária formação de 1985. Sozinhos no barco, Andrew e Wayne entravam em cada vez mais sucessivas contradições musicais e os interesses pessoais começavam a se tornar mais importantes que o próprio destino da banda. Com a despedida de Eldricht durante um show no final de 85, muitos fãs e a imprensa davam como certa a dissolução e o fim do The Sisters of Mercy.

Nesta mesma época Craig Adams, o baixista e Wayne Hussey decidiram continuar lançando algumas demos com o nome alusivo de The Sisterhood . Porém na visão de Eldricht, o nome esta atitude feria seus direitos sobre o nome e a marca do The Sisters of Mercy. Sendo assim ele decidiu registrar o nome Sisterhood e lançar o disco Gift, que continha o single Givin Ground como carro chefe e ostentava em sua formação a baixista Patricia Morrison, Jimmy Ray, Lucas Fox e Alan Veja. Depois de muita luta nos tribunais britânicos ficou firmado o acordo de que ninguém lançaria mais nada sob o nome de Sisterhood. À partir daí Mr. Eldricht felizmente e finalmente decidiu voltar a se dedicar à musica e à banda que havia criado na tão remota Leeds de 1981. A dissidência formada por Wayne Hussey e Craig Adams adotou de vez o nome do projeto paralelo que vinham mantendo, assim nascia o não menos lendário e adorado The Mission Uk.

O trio homem máquina formado por Andrew Eldricht, Doktor Avalanche e Patricia Morrison lançaram então em 87 o álbum Floodland que contava com os clássicos This Corrosion, Mother Russia e Dominion. Algumas canções do polêmico Gift foram incluídas em forma de bônus e a inusitada 1959, sugestão de uma fã que carregava em seu nome a data de nascimento de Mr, Eldricht. Floodland fecha 1987 vendendo cerca de 230 mil cópias, conquistando algumas primeiras posições nas paradas americanas e colocando o The Sisters of Mercy definitivamente de volta ao cenário musical da década de 80.

Em 1988 já com a nova formação Andrew Eldricht ( vocais e programação ), Tony James ( baixo ), Doktor Avalanche ( bateria treme terra ), Andreas Bruhn ( guitarra ) e Tim Bricheno ( guitarra ) a banda lança o single Lucretia My Reflection e o terceiro álbum oficial de carreira, Vision Thing que trazia em suas veias o sangue hard rock dos novos integrantes. A turnê do álbum incluiu além dos shows na Europa e América do Norte, a primeira turnê latino americana da banda que incluiu em sua programação quatro shows inesquecíveis na terra do samba. Paulistas, gaúchos, cariocas e brasilienses puderam sentir e ver de perto o estrago do poderio da banda do soturno Mr Eldricht, e seus asseclas roqueiros. No ano seguinte seriam lançados apenas duas coletâneas entituladas respectivamente por ordem de lançamento Some Girls Wander by Mistake e A Slight Case of Overbombing. Algumas divergências com a gravadora fizeram com que Eldricht lançasse o mal intencionado Screw Shareholder Value : Go Figure já em 1997, com o simples intuito de cumprir uma exigência contratual e encerrar a parceria com a tal gravadora.

A atual formação Andrew Eldricht ( vocais ), Adam Pearson ( guitarra ), Chris Sheehan ( guitarra ) e o eterno Doktor Avalanche segue lançando demos novas e excursionando por aí, considerando a hipótese de no futuro voltar a lançar material novo pelo selo próprio Merciful Release. A nós fãs e admiradores do trabalho da banda cabe apenas esperar por novidades e quem sabe até uma nova apresentação da banda em terras tupiniquins, e de preferência ouvindo The Sisters Of Mercy bem alto, como deve ser.



Thiago Maggio


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