X-Mal Deutschland - História


Em meados de 1980, enquanto o som gótico começa a despontar na Inglaterra com Bauhaus, Cure e Joy Division, das profundezas do underground alemão, o mesmo que nos deu Kraftwerk, alguns anos antes, surge uma banda completamente feminina fazendo a mesma passagem do punk ao New Wave. Enquanto, Joy e Siouxsie passavam por essa transformação na Inglaterra, ao mundo da nova onda, 5 garotas resolvem também assassinar o som dos 70 na Alemanha, mais precisamente em Hamburgo, incorporando o som da nova onda ao punk, e mesmo sendo conhecida apenas anos mais tarde, também é uma das pioneiras do que se convencionou chamar de som Gótico, Rock Gótico ou até punk depressivo. Essa mistura do som do fim dos 70, com a "onda fria" que iria invadir a Europa nos próximos anos.

Essa formação durou pouco tempo, enquanto assinavam com a 4AD, uma das principais gravadoras independentes do mundo, que nos deu maravilhas como Cocteau, This Mortal Coil, Dead Can Dance e Xymox, a banda passa por uma reformulação, quando trocam a baixista e em seu lugar entra Wolfgang Ellerbro, a única figura masculina da banda, que já era formada pela vocalista e líder da banda Anja Huwe, nos teclados criando aqueles climas maravilhosos Fiona Sangster, nas guitarras Manuela Rickers e pela também incorporada baterista Manuela Zwingman. Ainda na gravadora alemã Zick Zack lançam dois singles Schwarz Welt e o inesquecível Incubus Succubus, aliás item de colecionador hoje em dia. Uma das características incomuns da banda é a de nunca nenhum de seus integrantes ter tocado em qualquer banda antes, sem nenhuma experiência, os que entraram ou saíram sempre foram deflorados pela X-Mal.Com essa formação lançam seu 1º álbum Fetisch em 1983, aliás o álbum que virou a cabeça dos críticos de todos os do mundo para a Alemanha, novamente depois de anos a Alemanha dava das suas, depois sabemos que na história ainda apareceram Falco, Alphaville e Propaganda, a Alemanha era assim a cada geração, de tempos em tempos trazia as suas inovações e maravilhas do sub-mundo. Sem dúvida este álbum é um marco no cenário underground internacional, e o mundo volta seus olhos ao som Gótico germânico, muito parecido com a Siouxsie, mas com uma pitada de Killing Joke, a característica própria, o uso de tecnologia, que era usado apenas para criar uma textura mais refinada e um clima mais "viajante" não para criar rítimos dançantes, mas mostram mesmo assim que são da terra de Ralf Rutter e Florian Schneider. Inconfudivelmente. Com cara própria. Já no lançamento do álbum começam a abrir shows pro Cocteau Twins em sua turnê européia. Uma ótima música é drive, bem pesada aliás, e Anja inaugura seu famoso jeito de cantar - alalaôs, voz inconfundível e onomatopéia característica de seus vocais. Desse álbum ainda surge o single Qual (escolhido um dos melhores do ano no seu relançamento em 85).

Depois de um certo tempo meio oculta, seus integrantes entram em colapso maníaco depressivo e desaparecem por um ano, sem aparições pelos estúdios ou palcos da Europa, mostram que era apenas pausa uma necessária a coletar toda a inspiração que surge no álbum seguinte Tocsin, já com novo baterista, aliás inglês - Peter Bellender. A banda assume seu papel de representante dos anseios das profundezas do submundo germânico. Canções aberrantemente maravilhosas pululam deste álbum. Baterias tribais dominam seus trabalhos. Já são a banda alemã mais famosa na Inglaterra. Então, pra variar seu Ian Peel, não perde uma, e lança as Peel Sessions em 86. Mas o melhor ainda estava por vir...

Então assinam com a Phonogram Much, e agora sim uma popularização internacional, o álbum Viva é o marco dessa nova e derradeira fase do X-mal, e é mais uma banda dos 80 como o Art of Noise que começa em 1980 e acaba em 1990, para mostrar o caminho que as bandas que fizeram o som característico dos 80 deveriam ter seguido, mas infelizmente algumas se adaptaram ao pop descartável, chegando ao cúmulo de dizer que nunca foram góticos (como o Bob Smith em uma entrevista em fins de 97), ou algo do gênero, alcançando o absurdo de fazer techno e dance dos 90, Urgh! Bom mas vamos voltar as coisas boas. Aliás Viva. Viva os 80 como nunca, esse álbum sim traz um marco mundial, a música gótica com esse álbum começa a emergir em vários países da Europa, mostrando que não se restringia mas só a Inglaterra e Alemanha. E claro desse álbum surge seu maior sucesso nos charts europeus, aliás maior hit aqui também em pistas brasilis, a maravilha Matador. Algo inexplicável, só ouvindo, poderia colocar todos os adjetivos que conheço para descrever essa música e ainda estaria sendo injusto com ela. É tudo, sem dúvida impossível de se escrever em poucas linhas, a celebridade dessa música. Mais incrível, está em qualquer top 100 a top 400 dos anos 80, espalhados pelo mundo. No Brasil, embora estivesse restrito às casas noturnas alternativas, criou uma legião de fãs tupiniquins, que disputavam cada CD quando raramente apareciam por aqui. Desse álbum, um de seus melhores trabalhos, também destaca-se aquela que é uma das sete maravilhas do mundo gótico Illusio. Além de Eisengrau, outro grande hit dos hospícios do mundo em suas salas de maníacos-depressivos. Morning dá continuinuidade à crise depressiva. Sua sonoridade é posta à prova em Manchmal e como se para completar um apelo pré-suicida Polarlicht. A rainha Siouxsie não está mais sozinha se apropiando dos corações dos fãs, agora tem que dividir com ela, Anja Huwe, dona dessa voz inimitável e tão tétrica.

No final dos anos 80 lançam Devils, já em decadência apocalíptica, entre em seu momento crepuscular. Ainda na Phonogram, mas desta vez não conseguem alcançar o sucesso internacional de Viva, seu ápice musical. Em contraponto, a sonoridade musical da banda e suas performances em shows se aproximam do ideal justamente nesta fase. Como, Anja cada vez mais linda, se torna também cada vez mais perfeita no palco! Incrível a elegância com que passa a cantar nos shows da turnê de lançamento deste álbum. É simplesmente seu auge no palco, infelizmente, quando chega à esse acúmulo de experiência - e glamour, romantismo, sedução - a banda caminha pro seu término, aliás perdendo qualidade na composição das músicas, sorry!

Em 1990 se juntam novamente para gravar um álbum derradeiro, mas o clima de incovivência juntos não deixa-os nem terminar o álbum, e a WEA nos oculta as gravações dessa época. Com a entrada definitivamente na década de 90, é anunciado o fim da banda. A rainha alemã dos góticos deixa os palcos e estúdios do mundo, e góticos do mundo entram em colapso depressivo, pelo fim de mais uma superbanda, algo como morte cerebral causada por excesso de tédio e depresão na valva mitral. Anja parece ter sido abatida por uma misantropia profunda. Para viver enclausurada em seu banker, ou em convívio apenas do seu clã.. As noites sem ela jamais serão as mesmas, que inspiraram tantos a levantarem de seus túmulos nas noites londrinas à procura de sangue, numa perseguição hematófoga, se escondendo dentro da fog e alimentando-se, de muito Incubus Sucubus.

Marcos Vicente

Bandas Relacionadas:

Joy Division, Bauhaus, Classix Nouveaux, Siouxsie & the Banshees, A Clan of Xymox, Sisters of Mercy, Anne Clark, Dead Can Dance, Cocteau Twins, Nena, Killing Joke



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