Lembranças
Casas Noturnas Parte I


Esta é uma matéria que deverá ser dividida no mínimo em 5 partes, começamos por algumas casas que mais inspiraram o Autobahn, e aos poucos vamos cobrindo todas as casas que fizeram história nos anos 80! Na festa deste sábado é dia de reviver todas elas, sem excessão, da Zoom à Sunshine, da Woodstock ao Rhapsody, do Victoria Pub à Toco, da Broadway à Apple...

Cave - Localizada na Avenida Henrique Schaumann, esquina com a Cardeal Arcoverde, a Cave possuía três ambientes, sendo duas pistas de dança e um mezanino. Eu freqüentava a casa na época da House Music e foi lá que escutei pela primeira vez o Kon Kan com 'I Beg Your Pardon' e como ninguém ainda conhecia a banda, a galera achava que se tratava de um novo hit do New Order.

A pista principal rolava mais House Music, mas a pista do subsolo era mais alternativa e rolava, The Cure, Echo & The Bunnymen, Siouxsie & The Banshess, Simple Minds, entre outros.

O mezanino ficava ao ar livre de frente para a avenida e ficávamos ouvindo o que estava rolando na pista principal. No alto da casa, havia um carro pendurado, que virou um dos pontos de referência da Henrique Schaumann na época.
Mais Tarde no local da Cave, abriu o Extravaganza, mas isso já foi lá nos 90...

Up & Down - Quantas saudades! Eu ficava alucinado com o show de iluminação deles. Localizada da Rua Pamplona, a casa começava a funcionar a partir das 22 horas e ficava tocando as músicas de começo de balada com um volume baixo para que o pessoal pudesse conversar, mas quando dava meia-noite todos olhavam para cima para ver o show de iluminação comandado por computador. Haviam duas aberturas clássicas. Uma era um ballet de luzes ao som da New Age Music do Kitaro. As luzes se movimentavam de forma lenta acompanhando o ritmo da música e na sequência ouvia-se um estouro e o logotipo da casa aparecia no telão e aí era só alegria.

A outra abertura era um medley de várias músicas abrindo com a versão extended de 'Dont Go' do Yazoo e várias imagens apareciam rapidamente na tela até que se ouvia um estouro e o logo da Up & Dowm. Era como se estivéssemos dentro de um disco voador. Havia também por baixo do telão um seqüenciador de formas geométricas e a casa possuía vária televisões adaptadas nas paredes que captavam imagens do pessoal dançando, formando uma espécie de videowall. Havia também a iluminação de parede, light wall, formando sequência de imagens.

Nas pick-ups além de muito Flash House, podia-se ouvir alguns ícones do EBM, que bombavam as casas do Jardins, como Rigor Mortis e On Command da Split Second, detalhe que diferenciava a Woodstock, Up & Down e Hippodromo de todas as outras casas que rolavam House de São Paulo, além é claro de muito New Order, Yazoo, Pet Shop Boys, etc. Saudades da Rua Pamplona, 1418, que hoje virou bingo...

Hippodromo - Dos mesmos donos da Up & Down, essa casa ficava na Rua Turiassu, no bairro da Pompéia e com decoração semelhante ao da Up & Down. O logotipo eram dois cavalos e a casa ficou famosa por difundir os ritmos do New Beat e EBM (Electronic Body Music).

Embora tenha pouca duração, a casa praticamente o New Beat e o EBM com clássicos que arrasavam na pista como American Soviets do CCCP e Lack of Sense do Tribantura, recheado de muito Front 242 e Split Second entre os clássicos do Flash House como Sabrina, Tom Hooker e The Voice in Fashion.

Woodstock - Essa foi a que mais freqüentávamos, Reinaldo entre os anos de 85 a 88 e Marcos de 88 a 91. Lá tocava nesse período o que rolava na 89 FM e tinha a apresentação ao vivo da banda Rock Memory que fazia covers dos Smiths com muita perfeição e também tocavam The Cult, Simple Minds, U2, entre outros. O vocalista usava um rabo de cavalo e tocavam repertório próprio, chegando a gravar um LP. A pista vinha abaixo quando o DJ tocava Surfin'Bird dos Ramones. Os especiais de bandas como New Order e Depeche Mode também rolavam na festa.

A partir de 88 a 90, a casa investiu forte no EBM, que era a forma mais bem acabada da música alternativa para as pistas, sem contar sets inesquecíveis de New Beat que começavam com Klangwerk passava por Umo Detic e chegava ao auge em músicas como Tutti Frutti do S-50 Projekt.

Havia também espaço para Sisters of Mercy, Trisomie 21, muito Human League (época do lançamento do single Heart Like a Wheel quando a banda voltou a estourar por aqui) e New Order sem parar, considerada por quem viveu a época, a melhor casa de São Paulo, exatamente por misturar o Flash House com EBM, New Beat, Gótico e o Rock dos anos 80, casa que influenciou a festa Autobahn, exatamente a proposta que o Autobahn mantém até hoje, reunir pessoas que curtem a nata dos anos 80, do EBM ao Flash House, rock do Oingo Boingo ao delicioso pop da Madonna, sem formação de guetos de cada estilo como vemos em alguns locais, ultimamente. O Autobahn já nasceu com esse intento, e por isso mesmo, reproduz hoje em dia o clima da Woodstock, onde fãs de Information Society convivem em perfeita harmonia com fãs de Siouxsie and the Banshees, e no final todo mundo acaba curtindo um pouco os estilos do outro.

Outro feito histórico da Woodstock foi ter lançado The Promise do When in Rome, simplesmente 4 anos antes da música estourar no Brasil, música que foi estourar em 92, e muita gente pensa que é dessa época a música, mas quem frequentava a Woodstock já podia se deliciar com as músicas exclusivas da Woods na época. No minimo duas vezes por semana eu (Marcos) batia cartão na Consolação, 3247, fiz até meu aniversário umas 4 vezes...

QG - Ficava em frente ao prédio da Dacon na Avenida Brigadeiro Faria Lima e tínhamos que pegar um elevador para chegarmos até ela. Mais tarde mudou de dono e passou a se chamar Krill. Lembro que o Sigue Sigue Sputnik acabara de lançar o single 'Love Missile F1-11' e quando tocava todos invadiam a pista de dança.

Area - Ficava no bairro de Pinheiros e essa também deixou saudades. Me lembro que comemorei meu aniversário nela e regado a muita Keep Cooler. Havia um diferencial nela entre todas as outras casas. Uma espécie de trilho de trem fixado no teto e quando estava no auge da balada o DJ anunciava que uma garota estaria desfilando para os freqüentadores e eis que surge uma cadeira suspensa como se fosse um teleférico e presa nestes trilhos e sentada nela uma estonteante gata trajando roupas sedutoras e a cadeira a conduzia por toda a pista de dança dando umas três voltas. Me lembro que um dos frequentadores chegou a conseguir pegar no pé dela e os seguranças trataram de tirar ele da balada. A música que mais marcou nesta casa foi 'Go' do Tones On Tail, porque o DJ fazia um efeito com eco quando havia o grito na música repetindo-o por diversas vezes.

Tamatete - Essa era localizada na Avenida 9 de Julho e possuía uma pista de dança pequena e muitos sofás para os casais namorarem, havia uma diversidade de festas e lembro que fui na festa Tropical com várias frutas da estação, porém houve um lamentável fato de que vários freqüentadores começaram a fazer guerra de frutas virando um caos.

Victoria Pub - Assim como a Woodstock, mantinha as características típicas das casas do Jardins na época, misturando pop/rock e sintetizadores, bandas ao vivo, incluindo um show inesquecível da Blitz, se revezavam com sets de Technopop e mais tarde no final dos 80, com Flash House, indo de Simple Minds a Depeche Mode, além de muito New Order e Flash House, infelizmente não chegando ao EBM, a não ser os hits do Front 242 (Headhunter e Welcome to Paradise, presenças obrigatórias na pista). E a fila? A fila na Alameda Lorena, 1604 era um caso à parte, ficávamos um tempão esperando para entrar mas valia muito a pena. Tinha até uma salinha de TV... providencial, by the way.

Hoje uma grife de calçados e bolsas funciona no local hoje em dia!

Toco
Quem curtiu os anos 80 dançando, indo nas baladas, ouvindo as músicas, etc...Sabe que uma das paradas obrigatórias era A Toco, conhecida como a maior danceteria de São Paulo, com capacidade para 4.000 (quatro mil) pessoas.
E não é para duvidar-se, quem teve o privilégio de ir pelo menos uma vez, certamente ficou embasbacado com o ambiente, o tamanho da pista, o mezanino e logicamente a alegria contagiante da galera dançando, não podemos esquecer a maior referência da danceteria, o jogo de luzes.

Eu tomei conhecimento da Toco através de uma chamada num programa de rádio (não me lembro se foi na Transamérica, Jovem Pan ou Rádio Cidade), isso precisamente em 1986, e nessa chamada foi introduzido um trecho da Música Axel F. de Harold Faltermeyer (quem não lembra do filme Um tira da Pesada?), pois é, com aquela chamada eu já fiquei pra lá de interessado, mas com apenas 14 anos não dava pra aproveitar muita coisa da noite, só que eu tinha que dar um jeito, e acabei indo na matinê mesmo...

Domingão chegou,  combinei com alguns amigos de conhecer A Toco, era praticamente a primeira vez que íamos todos numa danceteria (ou salão como costumávamos dizer), todo mundo de banhinho tomado, roupinha bonitinha, cabelinho penteadinho, e lá fomos (uma tropinha de pentelhos com a faixa etária média de 14/15 anos) conhecer A Toco. Como morávamos perto (em Itaquera) chegamos relativamente rápido para curtir a matinê; ao chegar toda a nossa expectativa foi compensada, pulamos, cantamos, foi realmente inesquecível, ainda me lembro da primeira música que abriu a tarde – I can’t Wait – Nu Shooz...


Um pouco de história
A Toco nasceu de uma iniciativa de empresários que animavam bailinhos de formatura em 1972, a idéia foi tomando corpo até que tiveram a idéia de montar uma Mega Danceteria, assim nascia a Toco, na Vila Matilde, zona leste da Capital em São Paulo.

A Toco foi a responsável pela realização de vários shows internacionais em terras brasileiras, alguns deles: Information Society, A-Ha, KC and the Sunshine Band, Queen, Technotronic e muitas outras.


Contramão
A Contramão era outra das grandes danceterias dos anos 80, estava localizada num bairro de burguês (só pra não perder o costume...), Tatuapé. Não era tão grande quanto A Toco, mas energia, alegria, vibração e curtição não faltavam na pista da Contramão. Esta foi outra danceteria que frequentei, logicamente não podia deixar de comentar a primeira música que ouvi lá – Safety Dance com Men Without Hats.

Point obrigatório para quem agitava na região da Praça Silvio Romero, a Contramão alegrou a galera durante 12 (doze) anos, de 1980 até que fechou as portas em 1992.
O ambiente era extremamente agradável, havia uma pista de tamanho médio, mas parecia maior do que era quando estava lotada, aquilo bombava, seja no sábado ou na matinê de domingo.
A Contramão foi a responsável pela realização dos shows das bandas Siouxsie and The Banshees e The Bolshoi no Brasil, apesar de não representarem exatamente o perfil da casa, esta iniciativa vale ser destacada.

Neste sábado o Autobahn revive o clima de todas essas danceterias dos anos 80: Up & Down, Toco, Contramão, Zoom, Broadway, Woodstock, Victoria Pub, QG, Rhapsody, Rose, Cave, Hippodromo, Playboy, Sunshine entre outras que fizeram história na noite de São Paulo! Você não pode ficar de fora desta viagem no tempo!

Se você viveu os anos 80, sábado é dia de matar a saudade de tudo que rolava nessas danceterias. Se você não teve a oportunidade de conhecer essas casas, sábado é dia de poder sentir como era fielmente a atmosfera numa casa noturna nos anos 80.


Ivana Fevereiro e Marcos Vicente